Geomarketing na prática
10.04.2019
Desde os primórdios da humanidade, os mapas têm sido usados para analisar
as mais variadas questões. A escolha do melhor local para uma caçada, a
definição de uma região para uma tribo, a navegação marítima por mares
pouco conhecidos. Tudo isso sempre teve como premissa básica o estudo
geográfico de um local.
No caso da gestão de negócios e do planejamento estratégico nas empresas,
as tabelas com números costumavam vir antes da análise geográfica, mas isto
vem mudando e, hoje, a localização passa a ser um fator primordial para a
tomada de decisão. Estudos mostram que pelo menos 80% de toda a informação
disponível em uma corporação tem uma componente geográfica. Mas como dar os
primeiros passos para a utilização eficiente da informação geoespacial nas
empresas?
Primeiro, é preciso conhecer os conceitos básicos do Geomarketing, uma
ferramenta que permite integrar bases cartográficas e dados socioeconômicos
às informações dos clientes e concorrentes, disponibilizando tudo isso na
forma de mapas, permitindo uma análise visual do problema e embasando a
tomada eficiente de decisões.
O termo Geomarketing é também associado a Marketing Geográfico, Geografia
de Mercado ou, ainda, Geomercadologia. É um setor multidisciplinar que
integra, relaciona e coordena três disciplinas e suas técnicas de pesquisa:
a Cartografia, a Geografia e o Marketing. Essas áreas são responsáveis
pelos estudos e pela representação dos fenômenos que interagem no meio
físico, cultural, econômico e comportamental, fundamentais para as análises
de marketing baseadas em geografia.
Mas para obter-se um bom resultado a partir de uma análise de Geomarketing,
primeiro é preciso garantir que os dados - geoespaciais ou não - sejam de
boa qualidade. Afinal, se as informações iniciais forem incompletas ou
inconsistentes, o resultado final pode até ser um mapa "bonito", porém o
estudo levará o tomador de decisão a escolhas erradas, gerando prejuízo ou
perda de receita.
Dentre os dados utilizados no Geomarketing estão, além da base cartográfica
propriamente dita, elementos de geodemografia, áreas de influência,
concorrência, capilaridade, canibalização, localização dos clientes,
histórico transacional, infraestrutura, entre outras variáveis que fazem do
Geomarketing uma ferramenta poderosa para análise do comportamento do
mercado.
Após a obtenção dos dados e a verificação da qualidade dos mesmos, quem
integra todas as informações e as apresenta de forma coerente e organizada
na tela do computador - em um mapa que pode ser analisado por qualquer
tomador de decisão - são os Sistemas de Informação Geográfica (SIG).
O SIG - ou GIS, na sigla em inglês - é a ferramenta que, integrando as
tabelas aos dados geográficos, possibilita realizar as mais diversas
análises. Bem diferente dos mapas cheios de alfinetes do passado, o produto
final do estudo no Geomarketing é uma representação fiel de uma região, com
áreas, linhas ou pontos que indicam com muita precisão os melhores locais
para se iniciar um negócio, ampliar uma rede ou concentrar esforços de
vendas.
Em um passado recente, qualquer análise de Geomarketing era apresentada em
um mapa plano, em duas dimensões, mas com as bases de dados em 3D é
possível, hoje, fazer análises levando-se em conta também o relevo. Além
disso, pode-se incluir outras variáveis nas análises, como o tempo, levando
o estudo a novos patamares como o 4D, 5D etc.
Outras tecnologias e métodos de análise que vêm impulsionando o setor de
geomarketing, em todo o mundo, são o marketing direto em dispositivos
móveis, as aplicações baseadas na web 2.0, os novos modelos estatísticos, o
uso de macroindicadores, a popularização da geoestatística, entre outros.
No Brasil, a inteligência geográfica já vem sendo usada em aplicações de
expansão de negócios, gestão de redes, definição de mix de produtos,
otimização de rotas de distribuição, marketing móvel, mídia externa,
enriquecimento cadastral, incorporação imobiliária. Hoje, as empresas que
mais utilizam aplicações de geomarketing são dos setores de franquias,
varejo, telecomunicação, energia, bancos, financeiras, operadoras de
cartões de crédito, seguradoras, construtoras, imobiliárias, indústria de
bens de consumo, instituições de ensino e religiosas, mas qualquer área
pode se beneficiar da análise geográfica para a tomada de decisão.
As perguntas feitas pelos empreendedores, quando planejam iniciar ou
expandir um negócio, são muito simples: Abro uma loja neste local? Reformo
meu estabelecimento? Mudo o perfil do meu ponto de venda? As respostas
também são simples - sim ou não -, porém os meios para chegar a tal
resultado devem necessariamente passar pela geografia.
Eduardo Freitas é engenheiro cartógrafo, técnico em edificações, mestrando
em SIG, editor do portal e revista MundoGEO, autor do blog GeoDrops,
criador e moderador da rede social GeoConnectPeople, coordenador técnico do
evento MundoGEO#Connect LatinAmerica.